domingo, 20 de março de 2016

O TROMPETE AZUL VENCEU

Recentemente li (site Precisava Escrever) uma resenha muito boa sobre a série HOW I MET YOUR MOTHER.


Esta série gira em torno da vida de Ted e dos seus amigos, que é narrada pelo próprio aos seus filhos, 25 anos mais tarde, onde ele conta as histórias e peripécias que o levaram a conhecer a mãe deles.

Em 2005, aos 27 anos, o jovem Ted Mosby, após o seu melhor amigo Marshall  ficar noivo, decide finalmente ir em busca da sua cara-metade. 


Com gestos românticos questionáveis, Ted conhece Robin no bar que costumavam frequentar, Maclaren's Pub. 



Após uma série de eventos Robin passa a pertencer ao grupo de amigos de Ted: Barney, Marshall e sua noiva, Lily que namoram desde o primeiro ano da faculdade.

O que mais me chamou a atenção na leitura foi o destaque para o diferencial que fez com que a série (HIMYM ) se desprenda do perfeccionismo de ficção e se torne um aprendizado de vida, algo real.

Durante a referida leitura eu lembrei do filme QUESTÃO DE TEMPO:"Será que ao observarmos o dia a dia, já não teríamos motivos suficientes para prosseguirmos?". Questão de Tempo ensina preciosas lições de moral: viva cada momento como se fosse o último, aprecie as menores coisas da vida e não será necessário refazer nada.


Nessa mesma linha tem um clássico do cinema FEITIÇO DO TEMPO, em que o protagonista Phil, personagem de Bill Murray se sente preso ao próprio destino,cumpre sua rotina sem prazer até que fica preso nas engrenagens dos seus dias e tem que voltar ao que não fez bem feito até que aprenda. 


O próprio Phil  só consegue se libertar do ciclo de repetições quando ele descobre que naquela cidade que ele tanto odiava ter de ir todos os anos, havia muitas coisas que ele nunca prestara atenção,e só começou a percebê-las quando ficou preso no tempo.


Através das repetições observamos o quanto somos prisioneiros de cada dia que deixamos de viver, e que a única forma de nos libertarmos é fazendo de cada dia o melhor de nossas vidas.
Isto parece ser fácil na teoria, mas na prática todos nós sabemos quanto esforço temos que fazer quando a vida, a rotina se torna pesada.


Há um aprendizado importante quando o "destino" parece não nos deixar muitas opções em relação ao que fazer, e que, portanto só podemos escolher "como" fazer. 


Estamos a todo o momento fazendo escolhas, entendendo que nossa responsabilidade não está apenas nas nossas limitações, mas também num âmbito mais coletivo, onde minhas atitudes podem alterar, piorar, ou melhorar a vida do outro. 
E é neste aspecto que Phil muda e se transforma surpreendentemente.




FEITIÇO DO TEMPO é um clássico, pura poesia:



Esta Declaração de amor que o Phil faz para a Rita prova isso:

- "A primeira vez que eu a vi, algo me aconteceu.
Eu sabia que queria abraçá-la o mais apertado que podia,
eu não mereço alguém como você, mas se eu pudesse,
eu juro que eu a amaria pelo resto da minha vida.
Não importa o que aconteça, amanhã ou até o restante de minha vida, eu sou feliz agora porque eu te amo.”

Bem,voltemos a série HOW I MET YOUR MOTHER 

Sobre a temporada, acho que as pessoas não entenderam muito bem o que foi feito. O final de semana do casamento foi a forma encontrada de reunir todos personagens e de relembrar e homenagear tudo que foi vivido. Concordo que se tornou monótono em alguns momentos, mas com certeza teve episódios realmente muito bons e resgatou quase tudo que se passou nos anos anteriores.

Sobre o episódio final, percebo que as críticas vem de pessoas que, na minha opinião, criam expectativas falsas do que seria o próprio seriado. Fiquei impressionado com a forma realista que os roteiristas trataram a trama desde o início, especialmente nesse último capítulo.

Sabe, acho que a vida é mesmo assim. É bem provável que você não vá casar com o amor da sua vida, talvez vá ter que viver longe de quem você ama, talvez terá que escolher entre o seu sucesso profissional ou o da sua esposa, talvez será um solteirão até os 40 anos, talvez tenha uma filha com uma mulher que você mal sabe o nome, talvez tenha problemas de relacionamento com o seu pai, talvez sonhe em ser um arquiteto renomado e se descubra um professor ou, talvez, vá esperar anos para conhecer um grande amor e perdê-lo um tempo depois com uma doença terminal.

É assim que a vida é, e “How I Met Your Mother” soube, como poucos, retratar tudo isso com uma mistura de comédia e drama que vi raras vezes ser conduzida com tanta habilidade. O desfecho final foi simplesmente impressionante. Marsh e Lily constituíram uma família perfeita, cheia de amor e bem estruturada financeiramente, exatamente como mereciam.

Barney voltou a ser “Barney”, e pediu pelo amor de Deus para que nós, seus fãs, o deixássemos ser assim. Aquele personagem das últimas temporadas não era ele. A maioria de nós nasce para ter um grande amor, uma família, uma vida controlada. Com ele não. Ele tentou mudar, mas não aconteceu. Trata-se do anti-herói, o ponto fora da curva. E foi justamente por isso, e pelo talento e carisma extraordinário do ator, que esse personagem foi quem por inúmeras vezes segurou o seriado nas costas.

Todas as vezes que a trama sentimental deixava a desejar, lá estava o lendário, como seu terno impecável, a postura moral questionável e o copo em um das mãos, nos fazendo chorar de rir. E é assim que vou me lembrar dele. Barney realmente se apaixonou por Robin e, alguns, quiseram acreditar que esse sentimento seria forte o suficiente para mudar sua essência. Não foi.

Talvez a filha seja. Definitivamente trata-se de um tipo de amor que tem esse poder.  Infelizmente não teremos a chance de comprovar. Robin realizou o seu sonho, o que se propôs a fazer desde que chegou a Nova Iorque. Tornou-se uma apresentadora famosa e conheceu o mundo. Nunca soube muito bem lidar com os próprios sentimentos e com sua impulsividade e, por isso, teve que colher os frutos da vida que escolheu.


Ela alcançou o sucesso profissional, mas foi obrigada a conviver com a solidão e o remorso. Para finalizar, falar de Ted Mosby, para mim, é muito fácil. Minha identificação com ele é imensa desde que vi o primeiro episódio da série. Por todos esses anos imaginei dezenas de finais, mas nunca consegui pensar em algo tão “Ted”.

A descrição de Lily foi perfeita: “o coração mais resistente que já conheci.” O cara que tem os pais separados, que é deixado no altar, que, muitas vezes, se sente frustrado profissionalmente, que perde o amor da sua vida para um dos seus melhores amigos, que encontra um grande amor e vê essa mulher adoecer nos seus braços.


Um cara que passa por tudo isso e, ainda assim, consegue acreditar na vida e na felicidade. Um cara de índole e conduta intocáveis. O amigo que todos gostariam de ter. Um cara que, um dia, reuniu os filhos na sala de casa e contou a história da sua vida, não só para que eles soubessem a forma com que os seus pais se apaixonaram, mas também para pedi-los permissão para que pudesse, finalmente, correr atrás da mulher que sempre amou.

Como condenar isso? Simplesmente fenomenal. Saída genial para quebrar aquela célebre frase dita no final do primeiro episódio: “Essa é a história de como conheci sua tia Robin”.

Entenda-se, essa é a história do dia que conheci a mulher que eu sempre amei. E isso não quer dizer que Ted não tenha amado a mãe das crianças. Claro que amou. Que atire a primeira pedra quem só teve um amor na vida. E outra, como não se apaixonar por uma mulher daquela? Ela era tudo que o Ted sempre quis e mereceu. Feliz combinação de atriz e personagem.
Mas a vida é cheia de surpresas e, quis o destino, variável inclusive sempre muito atuante no seriado, que ela partisse cedo demais. Eu seria o primeiro a condenar a história caso Ted tivesse fugido com a Robin na véspera do casamento com Barney ou divorciado da Sra. Mosby para ficar com ela, mas isso não seria o Ted e, sendo assim, jamais aconteceria.

Aplaudo a forma sutil e habilidosa que o seriado retratou a morte da mãe. Realmente vibrei muito com a cena final do seriado. Tributo, ao meu ver, mais que merecido ao primeiro capítulo, o melhor de toda a série. Tudo se torna ainda mais genial pelo fato da cena dos filhos ter sido gravada há muitos anos atrás. Ou seja, não foi algo que os autores arrependeram e voltaram atrás na última hora.

Era algo que eles sempre planejaram e, mesmo assim, fizeram tudo que fizeram. Incrível! Para mim sempre foi Ted e Robin. A mulher que ele viu do outro lado do bar e soube naquele exato momento que seria a mulher da sua vida. E foi. Confesso que já tinha me dado por vencido e desacreditado nessa reviravolta. Sinceramente, quem não vibrou com aquele fim, precisa rever o seriado inteiro.

O trompete azul venceu. O final feliz que já tinha desistido de ver e que o destino trouxe de presente mais uma vez. Arrepiante. Inesquecível.

Por fim, fica a mensagem do seriado clara: As vezes procuramos a felicidade como um fim que nunca iremos alcançar, e não percebemos que esbarramos com ela milhares de vezes pelo caminho. Talvez o melhor dia da sua vida seja o dia do seu casamento, o dia do nascimento da sua filha ou o dia que conhecer seu grande amor. Pode ser....

....Mas talvez seja apenas uma noite como tantas outras, sentado em um bar, rindo com seus melhores amigos.

Acho que é disso que sentiremos saudade quando sentarmos para contar histórias para nossos filhos.