Recentemente encontrei um vídeo muito legal sobre o filme Matrix, tanto o vídeo como o texto foram escritos por RINALDO MARTINS DE OLIVEIRA.
Me emocionou a imagem da freira Dorothy Stang
VAMOS AO VÍDEO:
E AO TEXTO:
No meu ponto de vista, o primeiro filme “Matrix” é um rico
apanhado de críticas e denúncias sutis à vida ilusória e escrava que todos nós
levamos neste mundo dominado pelo capitalismo, ou mais precisamente, pela
cultura capitalística. Lembrarei algumas passagens do mesmo, dando-me o direito
de imprimir, aqui e ali, o meu juízo de valor, para que, quem assim desejar,
possa buscar uma reflexão na analogia.
No filme, exceto alguns homens e mulheres rebelados e
livres, todos os demais vivem em cativeiro, desde o nascimento até a morte,
dentro de uma redoma individual, em sono permanente, encobertos de líquido
gelatinoso e fios condutores ligados em todo o corpo sugando suas energias. Há
um cabo central, acoplado à nuca de cada um, transmitindo informações
sensitivas diretamente ao cérebro, a partir de um programa central - a chamada
Matrix - dando a falsa impressão de que se vive uma vida normal, quando, na
verdade, tudo não passa de uma simulação virtual.
Este é o mundo dominado pelas máquinas que, há duzentos
anos, alcançando inteligência própria, disputaram o poder com a raça humana e
venceram, desde então “cultivando” os homens para lhes servirem como pilhas
abastecedoras, até o esgotamento e descarte.
A história gira em torno do personagem chamado Neo que é um
comportado funcionário de empresa mas que, nas horas livres, é hacker viajando
ilegalmente pelo mundo da virtualidade.
Neo sente algo muito estranho em sua vida e ao seu redor,
como se tudo não passasse de um sonho. Na realidade, tal como quase todos os
demais seres humanos, ele também está preso e escravizado mental e
corporalmente pelas máquinas. Mas ao contrário de todos, tem a intuição acima
que lhe traz desconforto e conflito interno contínuo.
Por conta disso, uma pessoa chamada Morpheus - outro
importante personagem do filme - aparece em sua vida de forma inusitada
propondo-lhe dar respostas às suas dúvidas e incertezas. Morpheus é um dos
poucos homens que se libertaram da Matrix. Respeitado líder de um grupo de
insurgentes que vêm procurando, há anos, o Escolhido, que conforme a profecia
do “Oráculo” (um ser místico, disfarçado de dona de casa, escondido dentro do
programa Matrix) viria para salvar o mundo. Morpheus acredita profundamente que
Neo é esse Escolhido.
O primeiro contato pessoal entre Neo e Morpheus se dá com o
acesso deste último ao mundo virtual através de um programa paralelo
desenvolvido em sua nave (chamada “Nabucodonossor”). Na conversa, Morpheus
mostra a Neo a realidade do mundo em que os seres humanos vivem (ou melhor,
“vegetam”), escondida por trás da fachada criada pelo programa virtual: um
lugar deserto, frio, em ruínas, encoberto de espessas nuvens cinzentas
eletromagnéticas, vigiado por máquinas voadoras (os “sentinelas”). Isto é o que
sobrou da Terra, destruída há dois séculos.
É duro para Neo aceitar ou acreditar, apesar de todas as
evidências explícitas, nesta realidade e no fato de que a sua existência tem
sido uma mera mentira, uma simulação, uma história fabricada. Ele tenta fugir,
mas já é tarde: terá que necessariamente fazer a escolha por ingerir a pílula
vermelha ou a pílula azul.
A pílula vermelha era aquela que lhe provocaria uma
convulsão no seu corpo verdadeiro, capaz de fazê-lo acordar do sono
inserindo-o, pela primeira vez, no mundo real, no mundo da consciência. A
pílula azul faria-o esquecer de tudo o que ele até ali passou e descobriu,
levando-o de volta à sua vida virtual de funcionário de empresa e comportado
cidadão. Ambas as opções seriam uma decisão sem retorno.
Neo escolheu a pílula vermelha. Após ingeri-la, acaba por
acordar confirmando estar dentro da redoma gelatinosa. Logo, uma máquina
supervisora detecta a irregularidade, a “anomalia” e Neo, considerado como uma
espécie de fruta apodrecida, é jogado ao esgoto, sendo após resgatado pelos
companheiros insurgentes.
Desde então, começa a sua lenta adaptação física à vida
real. “Por que meus olhos doem?”, pergunta a Morpheus, que o responde: “porque
você nunca os utilizou”. A seguir começa o seu criterioso preparo mental para o
retorno ao mundo virtual e o combate, sobretudo, contra os chamados “agentes”:
homens de preto, frios, calculistas, muito ágeis e fortes, na verdade o
anti-vírus criados pelas máquinas para proteger o seu programa Matrix.
Esta preparação de Neo consiste em desenvolver a sua
capacidade de abstração da realidade, ou seja, compreender que a realidade
visível, ou melhor, sensitiva, no mundo virtual não passa de uma mera aparência
forjada pelo programa e que, por isso, pode ser controlada e manipulada, enfim,
dominada por quem conseguir desmistificá-la por completo.
O desafio se faz muito difícil para Neo, pois não lhe basta
o aprendizado de inúmeras técnicas de defesa e ataque (inseridas virtualmente
na sua mente mediante outro programa desenvolvido pelos insurgentes) contra os
agentes. É preciso, sobretudo, a concentração e o esvaziamento total de todos
os valores enraizados no seu interior durante o seu cativeiro, para que a mente
esteja absolutamente livre e capaz de ser ativada da forma correta e profunda.
Neo questiona se lhe será possível alcançar tamanha agilidade
dentro do Matrix para, por exemplo, desviar, como fazem os agentes, das balas
de metralhadora. Morpheus responde que a sua missão é levá-lo apenas até a
porta. Terá que ser ele (Neo) sozinho, enquanto o Escolhido, a seguir adiante.
Deverá alcançar um patamar de controle do programa que já não seja mais
necessário sequer se movimentar para evitar ser alvejado.
É o que acaba por acontecer no final do filme quando os
agentes atiram em Neo e ele pára as balas com uma das mãos e entra no corpo de
um dos vilãos, explodindo-o. Os outros dois, vendo isto, fogem. Mas antes, em
cena anterior, Neo é morto em confronto armado com os mesmos, o que resultaria
também na sua morte real (já que a mente aniquilada no mundo virtual provocava
concomitantemente a morte do corpo real). Mas, para a surpresa dos agentes e da
tripulação insurgente que acompanhava a disputa pela tela dos computadores da
nave, Neo ressuscita no mundo real e, por conseqüência, no mundo virtual: um
fato inédito e que comprova ser ele realmente o Escolhido.
Já passada a primeira vitória, uma provocação direta às
máquinas é então feita pelo Escolhido, através de telefone, no mundo virtual (o
telefone é o veículo de transposição dos rebeldes entre o mundo real - a nave e
o mundo virtual – o programa Matrix): que, pela primeira vez, elas também estão
a sentir o medo da morte ou de voltar a serem dominadas pelos homens, seus
originários criadores. Tudo porque uma ameaça real, um vírus forte e poderoso -
ele mesmo: Neo - entrou no seu programa Matrix o que poderá, através disso,
inclusive - e aqui a provocação se faz uma ameaça - infectar e danificar todos
os demais programas em rede que lhes dão vida e autonomia.
As máquinas se preparam para a guerra. Segue a triologia.
Texto escrito por RINALDO MARTINS DE OLIVEIRA
Em 2 de março de 2008.