Dando prosseguimento aos trabalhos, resolvi falar hoje sobre o filme Histórias Cruzadas. Eu não sei se foi pelas minhas origens (filho de vaqueiro) crescendo nas propriedades alheias ou pela minha própria miscigenação, mas, o fato é que este filme me comoveu profundamente.
Eu já falei desse tema aqui em novembro do ano passado, quando abordei a invisibilização do negro e alertei que as nossas práticas pedagógicas continuam punindo as crianças negras que o sistema de ensino não conseguiu ainda excluir, causando uma reclusão ritualizada em procedimentos escolares de efeito impeditivo, cujo resultado é o silenciamento da criança negra em curto prazo, e do cidadão para o resto da vida.(para ler o post na integra click aqui)
Eu sei muito bem como o ser humano pode ser cruel sem nem notar-se da maldade cometida. Conheço as entranhas do preconceito disfarçado, contido nas sutilezas do cotidiano. E posso afirmar que a dor causada é muito, mais muito maior que a de uma porrada na cara! Não me refiro apenas à questão específica do preconceito, mas também aos abusos cometidos por aqueles que de certa forma detêm um poder sobre pessoas que estão em estágios hierarquicamente inferiores.(leia mais sobre esse tema clicando aqui)
Nesse contexto se enquadra os abusos dos patrões com os funcionários, as humilhações das patroas com as empregadas domesticas, os excessos daqueles que detêm o poder econômico e acham que por serem ricos podem humilhar os mais pobres, enfim.
O que estou dizendo é que qualquer atentado que sofremos sobre a nossa dignidade, nossa honra ou respeito próprio nos causa uma dor, uma ferida, que exige muita força e fé para nos recuperarmos.
Este filme retrata a vida de empregadas negras que trabalham para abastadas famílias brancas, sendo tratadas de forma preconceituosa. O filme mostra que a condição para quem nasce negro – e mulher – é já saber de antemão que o futuro será trabalhando como doméstica, cuidando dos bebês brancos, tendo a consciência de que, um dia, os próprios bebês serão tão ou mais racistas que seus próprios pais.
Histórias Cruzadas é um retrato social dos Estados Unidos dos anos 1960 e seus conflitos, embates por direitos civis e a exposição da ferida racial, que perdura de forma invisível – porém presente – até os dias atuais, inclusive em nosso país.
A película utiliza-se de personagens que podem ser confundidos com pessoas reais. É um emocionante filme sobre igualdade e fraternidades pessoais: histórias que se cruzam na tentativa de apagar a nódoa do racismo.
Histórias Cruzadas é um filme que ganha o público por sua sensibilidade e balanço, alternando entre cenas cômicas e comoventes.
Está de parabéns a protagonista interpretada por Viola Davis, que vive uma doméstica veterana que já criou 17 crianças. Calada e com olhar sofrido, são dela os momentos mais emocionantes do filme.
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