Hoje celebramos o Dia da Consciência Negra. Um dia dedicado à reflexão sobre a presença do negro na sociedade brasileira.
Diante das polêmicas inerentes a questão, o que podemos afirmar é que o preconceito contra aqueles que são de cor negra existe sim! É fato.
A questão é saber se as cotas, leis, decretos etc, são a melhor forma de combater tal prática.
Hoje, a lei brasileira obriga as escolas a ensinarem temas relativos à história dos povos africanos em seu currículo. Além disso, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) estabelecem que a diversidade cultural do país deve ser trabalhada no âmbito escolar:
"A sociedade em que vivemos valoriza outro estereótipo, o que resulta na invisibilização do negro. Isso tem um efeito bastante perverso: as crianças negras nunca se vêm e o que elas olham é sempre diferente delas",
Precisamos discutir tal questão com nossos alunos, não podemos fingir que não existe preconceito em nosso país.
Tenho um post que ilustra muito bem essa questão (A FORÇA ESTÁ SEMPRE COM VOCÊ)
Por falar em invisibilização do negro, lembrei de um livro que li tempos atrás (História da Educação do Negro e outras histórias), Neste livro, Benilda R. B. Brito conta a seguinte história, acontecida numa escola da rede pública de Belo Horizonte, em 1997:
Professora planejando as atividades da Semana Santa pergunta aos alunos:
Vamos fazer um teatro sobre a paixão de Jesus Cristo. Para tal, precisaremos de um aluno que se disponha a fazer o papel de Jesus. Quem topa? A.A.B., criança negra, extrovertida, responde: Eu topo. Silêncio absoluto. Ninguém diz nada, nem as outras crianças brancas, nem a professora. Após cinco segundos é o A. quem quebra o silêncio: Pode deixar, não quero ser mais não!! A professora contou o episódio para a vice-diretora pedindo que não comentasse o ocorrido com os pais do aluno, pois a mesma afirmara ter ficado desarmada, sem saber o que falar.
È inegável que tais práticas pedagógicas continuarão punindo as crianças negras que o sistema de ensino não conseguiu ainda excluir, essa reclusão ritualizada em procedimentos escolares de efeito impeditivo, cujo resultado é o silenciamento da criança negra em curto prazo, e do cidadão para o resto da vida.
No livro Superando o Racismo na Escola, Kabengele Munanga afirma que na literatura e nos livros didáticos geralmente os personagens negros aparecem vinculados à escravidão. As abordagens naturalizam o sofrimento e reforçam a associação com a dor. Cristalizar a imagem do estado de escravo torna-se uma das formas mais eficazes de violência simbólica. Reproduzi-la intensamente marca, numa única referência, toda a população negra, naturalizando-se, assim, uma inferiorização datada. Tal modelo repetido marca a população como perdedora e atrapalha uma ampliação dos papéis sociais pela proximidade com essa caracterização, que embrulha noções de atraso.
Vou apresentar aqui alguns exemplos analisados por Kabengele Munanga:
Trabalha a versão de um conto popular dos chamados contos de riso.Todo educador sabe que um dos principais ataques à criança negra é o apelido de macaca, o que já detonou inúmeros processos de brigas que, repetidas, terminam em expulsão do ambiente escolar e marginalizações dos ambientes institucionais, de uma forma geral. No que um livro como este contribui para um comportamento anti-racismo? Faltou sensibilidade na publicação, onde pode-se facilmente associar a figura negra boba ao lado das bananas de... E isso é uma boa brincadeira!
XIXI NA CAMA – Texto de Drumond Amorim e ilustrações de Helder Augusto Waldolato, Belo Horizonte,Ed. Comunicação, 1979. A humilhação, no martírio do menino negro, é um dos casos mais violentos como construção simbólica apresentada para as crianças.
Estas são apenas algumas das várias obras analisadas pelo autor que abordam a questão da escravidão de uma forma equivocada. Geralmente, a queixa de crianças negras se sentirem constrangidas frente ao espelho de uma degradação histórica nos alerta que o mesmo mecanismo ensina para a não negra uma superioridade.
Lembro de um curta muito interessante, O Xadrez das Cores. Ao ver o filme é impossível manter-se distante da tensão das personagens. As personagens do filme apresentam-se como forças contrárias: rico e pobre, o branco, o negro, a patroa, a empregada. Apesar da relação contrária existente, ambas possuem em comum a força, a determinação. Estela (a patroa branca) insiste em oprimir, Cida (a empregada negra) que aceita por causa da necessidade da situação, mas utiliza-se do tabuleiro do xadrez para conhecer sua oponente. Não se satisfaz com suas derrotas. Apesar de ver suas peças negras sendo jogadas no lixo prazerosamente por sua patroa, estuda a adversária, busca um conhecimento que não tem.
Uma das mais belas lições do filme é a negação do conformismo, da busca pelo conhecimento para a transformação dos fatos. É esse desejo que a escola tem que despertar.
Não poderíamos deixar de relembrar também o filme (UMA CRUZADA CONTRA O PRECONCEITO)
Não poderíamos deixar de relembrar também o filme (UMA CRUZADA CONTRA O PRECONCEITO)
Anos atrás participei de um curso de Formação em História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na Escola (confira aqui) onde um dos autores da capacitação afirmava que apesar da força dos nossos poetas cantores, dos nossos artistas, da presença negra no futebol, na literatura e de temos também o maior geógrafo do mundo, a invisibilidade da população negra continua, hoje menos, mas continua.
Não a invisibilidade no sentido real da palavra, mas aquela pusilânime e cínica que só os faz visíveis em datas e situações oportunas. Algumas aras negras começam a aparecer em peças publicitárias e outdoors dos grandes centros urbanos como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Belo Horizonte.
Alguns jornais noticiam que já existe uma classe média negra com renda até R$ 3.000,00. As cotas, já são uma realidade em diversas universidades públicas e o embranquecimento, tão caro a negros e brancos, parece não passar de falácia, já que, segundo o IBGE, no Brasil 88% dos casamentos se dão entre pessoas da mesma raça, ou seja, branco casa com branca, negro casa com negra e pardo casa com parda. Apenas 12% da população brasileira pratica as uniões interétnicas. (RIBEIRO, 2008. P. 93)
Leituras necessárias
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