Hoje vou lembrar com saudade, dos meus avós.
Dona Cristina minha avó e madrinha, ao longo de 84 anos, foi uma mulher trabalhadora, determinada e sempre preocupada com a família. Sempre foi uma católica ativa, frequentava missas, rezava o terço...
Dona Cristina acompanhou de perto o crescimento dos seus 9 filhos e 8 netos.
Morte digna é uma forma que Deus providencia para aqueles que vivem na retidão, como foi a história de Dona Cristina.
Ela completou seu
ciclo de vida sempre forte, nunca fraquejou, nunca reclamou da vida, nunca
lamentou.
Sabemos que as
despedidas doem, soam a uma casa vazia. Soam a ausência e solidão. Mas a Morte
não é Nada, é somente a passagem para o outro lado do Caminho.
Quero dizer minha madrinha que o que você era para nós continuará sendo, pois continuaremos falando com você e lembraremos de você todos os dias. Apenas continuaremos vivendo no mundo das criaturas e você estará vivendo no mundo do Criador.
Seu nome sempre
será pronunciado como sempre foi, sem ênfase de nenhum tipo. Sem nenhum traço
de sombra ou tristeza.
O fio não foi
cortado, pois você não estará fora dos nossos pensamentos, mas apenas fora de
nossas vistas.
Temos a certeza de que a senhora não está longe, apenas está do outro lado do caminho, para onde todos nós um dia também atravessaremos.
Somos gratos à sua vida, que tantas vidas gerou e inspirou, numa silenciosa mensagem de amor e doação; reconhecemos o seu nobre desprendimento, e marcamos para sempre o seu nome em nossos corações com a saudade e seu exemplo de vida.
Madrinha, ao tempo
em que a tristeza reveste nossas vidas com seu manto, também nos alegramos
porque temos a certeza de que agora você viverá plenamente.
Não posso deixar de falar no meu avô e padrinho Areolino que hoje, assim como a madrinha, descansa junto ao Criador.
A sua vida foi uma missão aqui na terra. De agora em diante, será uma
mistura de falta e presença, falta porque não podemos mais lhe ver, e presença
porque podemos lhe sentir em nossos corações.
Para nós que cremos em Deus, a morte é cheia de vida, pois morre a noite para nascer o dia, morre a semente para nascer a flor, morre o homem para o mundo e nasce para Deus.
Meu avô viveu, lutou, criou... Foi breve sua despedida, teve uma morte serena como a de um santo, após saber da sua missão cumprida.
Mas viverá para sempre nos seus filhos, netos, parentes e amigos. Nenhum de nós há de seguir confuso nos trilhos da vida por falta dos conselhos que ele nos deu.
Seu corpo permanece nesta terra, mas
a sua alma, com certeza, está no Céu...
A dor da perda, só não é maior do que a lembrança de suas virtudes e
exemplos que ele nos deixou.
O Céu é lugar dos justos e bons... Por isso Deus o chamou.
O Pó que é da terra, à terra voltou... Seu espírito de Deus, com Deus está.
A saudade que sentimos agora é porque nós os amamos e o amor transcende o
espaço e o tempo, não se limita ao contato físico, torna-se parte de nós, impregnando
nosso espírito e nossa alma, confortando-nos em dias difíceis.
Meu avô e padrinho era um homem bom e simples. Vivia para a sua família,
com a força da simplicidade, sem rapapés refinados, nem frases de bom
português. Gostava de conversar, contar histórias, adorava se vangloriar sobre
a “matuteza” dos netos que viviam na cidade.
Se um de nós retrucasse: “mas Padrim eu sou formado!”, ele perguntava: “mas sabe tirar o couro dum bode?”.
Se um de nós retrucasse: “mas Padrim eu sou formado!”, ele perguntava: “mas sabe tirar o couro dum bode?”.
Durante sua vida, percebeu que a maior herança que poderia deixar era a
retidão moral e o respeito à família. Morreu orgulhoso de ter todos os seus
filhos por perto, nenhum se desgarrou. Na casa do Seu Areolino, nunca faltou
comida, remédio, nem café no bule.
Mas a Morte é inevitável, pega a gente de surpresa. Muitos sonhos, planos
que de repente são interrompidos, mas agora serão concretizados com o auxílio
de Deus, pois ele está no colo do Pai intercedendo por todos nós que aqui
ficamos na terra.
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Aqueles que amamos nunca morrem…
Apenas partem…
… Antes de nós!!!
Descansem em paz.
Descansem em paz.