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Um poema-lista para garotas
trabalhadoras que procuram crescer e se encontrar.
1. Tudo bem abandonar qualquer pessoa, qualquer coisa e qualquer lugar
que façam você se sentir uma merda. É difícil, mas tudo bem. E nem
se dê ao trabalho de explicar nada para ninguém, a não ser que você queira.
Deixe que fiquem pasmos, sem saber o que aconteceu.
2. Saiba quem você é. Não só por fora, de algum jeito emocional,
sentimental, tipo “você é linda por dentro”, mas saber quem você é —
racialmente, culturalmente, em relação com sua sexualidade, seu gênero e sua
classe social — é uma fonte de seu poder. É você quem define isso para você
mesma. Nunca deixe qualquer outra pessoa lhe dizer quem você é. Isso pode mudar
com o tempo, à medida que você amadurece e aprende mais. Tudo bem. Administre
qualquer vergonha ou culpa que você possa sentir, assumindo a responsabilidade
por seus atos.
3. Assuma a responsabilidade pelo que você faz. Isso
significa reconhecer quando você pisa na bola, tanto quanto defender e ser dona
do espaço contestado que você ocupa. Você vai pisar na bola, e apenas você
mesma pode procurar reparar seus erros. Você vai precisar se defender, e
raramente alguém vai se encarregar disso em seu lugar. É igualmente importante
reconhecer seus erros e seus direitos.
4. Vão chamá-la de louca. Você é mulher. Não há como
passar pelo mundo no momento em que vivemos sem ser chamada de louca por
alguém. E normalmente isso vem justamente da pessoa que você gostaria que a
enxergasse como alguém que tem totalmente a cabeça no lugar. Você não é louca.
O mundo é louco. Se você é afetada por este mundo injusto, desequilibrado, isso
só prova que você é um ser senciente, dotado de sentimento de empatia.
6. Você vai viver momentos insuportáveis de dor.
Aprender a curar suas feridas leva tempo. E, às vezes, ficam cicatrizes. Muitas
vezes, a cura é incompleta. Pense em suas cicatrizes como sendo de feridas
sofridas na batalha, provas de o quanto você agora é mais sábia, mapas dos
lugares para onde você não quer mais voltar. Valorize essas cicatrizes,
respeite-as. Haverá momentos em que elas serão a única coisa que a lembrará de
onde você já esteve e do quanto ainda falta para você crescer.
7. Você terá momentos insuportáveis de solidão. Você
precisa aprender a adorar estar consigo mesma, porque em última análise ninguém
tem o potencial de amá-la como você pode se amar. É lindo amar e ser amada, mas
esses são apenas indícios de como você deve se enxergar. Se você se enxergar
como alguém de valor e aprender a converter o sentimento de solidão em um estar
sozinha tranquilo, que acalma, será capaz de dar e receber amor realmente
transformador.
8. Encontre alguma coisa que a faça sentir que o mundo faz sentido,
mesmo que não consiga justificar essa coisa intelectualmente a você mesma ou a
qualquer outra pessoa. No meu caso, se eu não me levanto da cama,
não transo, não saio para dançar, não leio um bom livro, não escrevo um poema,
não ouço um disco que acho o máximo ou não tenho uma conversa realmente
profunda e satisfatória pelo menos uma vez por semana, o mundo não faz sentido
para mim e eu me sinto solta, sem raízes. Se passo um mês sem essas coisas,
viro uma catástrofe total, inconsolável, incompreensível. Essa catástrofe pode
facilmente se converter em bola de neve e levar a vários tipos de
autodestruição. Encontre o que funciona bem para você e seja leal a essas
coisas, para ser leal a você mesma.
9. O mundo que você habita está doente. Essa
doença penetra em todos nós, e em muitas pessoas se manifesta como uma
incapacidade de amar a si mesma, o que dirá a outras. Algumas das pessoas que
sofrem uma forma parasítica dessa doença vão grudar em você, fazendo você de
hospedeira. Você pode achar que faz parte de sua natureza ser “doadora” e dar
apoio interminavelmente. Essas pessoas vão consumir seu amor por inteiro, vão
consumir você junto e deixá-la como uma casca oca. Você pode voltar a crescer a
partir dessa casca, mas será sofrido, e é preciso tempo e experiência de
traição e coração partido para aprender a confiar suficientemente em você mesma
para determinar quem é ou não digno de sua confiança. Não deixe que ninguém a
controle. Apenas ande com aqueles que quiserem caminhar com você, lado a lado,
como iguais.
10. Não transe com pessoas que não priorizarem o seu prazer. Isso
pode parecer muitas coisas diferentes, e você provavelmente ainda está
aprendendo o que é seu prazer. Não tolere amantes que não lhe derem espaço para
explorar, para expressar, e, sobretudo, se ele quiser apenas te usar como
recipiente para ele chegar ao seu próprio prazer. Caia fora. Isso não quer
dizer que você deve ignorar o prazer de seu parceiro, mas que deve enxergar o
seu prazer como tendo valor igual.
11. Você não é responsável pelas ações daqueles que odeiam tanto a si
mesmos que feriram você de propósito.
12. O coletivismo é um conceito belo e é algo pelo qual vale a pena
lutar e construir. O coletivismo mudou radicalmente e desafiou
estruturas e instituições injustas. Mas, se você sacrificar sua própria
sobrevivência pelo bem do todo, vai acabar se arrependendo, questionando o
sentido de sua vida e duvidando do valor de outros, em vista do egoísmo aberto
deles. Encontre um meio-termo.
13. Não carregue nas costas pessoas fracas que não passaram por um
processo de reconstrução de si.
14. Você não é seu emprego. Seu emprego é um salário, só
isso, e é provável que você não receba quanto vale, e isso não é sua culpa:
você herdou um sistema econômico falido e não será a primeira geração a lutar
pelo direito de viver. Mas você precisa lutar pelo direito de viver em
solidariedade com as pessoas à sua volta que também estão lutando.
15. Fazer faculdade é uma conquista. Mas não é algo que faça de você
uma pessoa melhor que qualquer outra. Não torna você essencialmente mais
inteligente. Você nunca vai conseguir “sair” realmente de onde veio e nunca vai
conseguir “ingressar” realmente onde aspira.
16. Se você não conseguir traduzir de volta para o lugar de onde veio
qualquer coisa que tenha aprendido com o acesso que teve, então você não terá
conquistado nada — só terá mudado. A assimilação é uma escolha.
Procure ser tradutora. Procure compartilhar seu acesso com as pessoas que
talvez você tenha deixado para trás. Procure revolucionar as estruturas que nos
ensinam que aqueles que conquistam mais acesso valem mais do que valiam quando
partiram e menos do que as pessoas em cujo meio agora estão.
17. Nunca leve a validação muito a sério. Isso
se aplica especialmente àquelas que crescem na era das mídias sociais. O olhar
da hegemonia está sempre focado sobre nós. Encontre validação na razão entre o
impacto positivo que você tem sobre você mesma e outros e na maneira como como
você magoa e prejudica outros. Você vai magoar outras pessoas. Assuma a
responsabilidade por isso, quando for o caso, e sempre fique atenta à frequência
com que isso acontece em relação às pessoas que você ajuda a fazer amadurecer.
Nenhuma de nós pode ser santa, mas podemos ser relevantes e sencientes.
18. Leve sua luta para sua comunidade, e encontre uma comunidade em
cujas lutas você possa intervir. É apenas em comunidade que
vamos encontrar sentido neste mundo destruído e sua ideologia corrupta, que
herdamos. Lute. Lute. Lute.
19. Você é inerentemente valiosa. Você tem valor. Não peça
autorização a ninguém para isso.